“It’s not the plan that is important, it’s the planning” - Dr. Graeme Edwards
A elaboração de Business Plans ganhou destaque nos últimos anos, associada a uma vaga crescente de empreendedores que, na procura de financiamento, são confrontados com a exigência de um documento que demonstre a viabilidade da sua ideia de negócio. No entanto, reduzir um Business Plan a um mero instrumento para obtenção de financiamento é retirar-lhe a importância que ele tem para uma organização.
Por definição, um Business Plan é um documento que descreve como uma organização irá atingir os seus objetivos, sobre vários pontos-de-vista (marketing, financeiro e operacional), auxiliando os empresários na tomada das diversas decisões necessárias para atingir o sucesso.
Existem alguns elementos-chave que deverão ser ponderados na constituição de um Business Plan, como:
- Missão, visão e valores: Deve ser claro no plano o que a empresa se propõe a realizar e onde, numa perspetiva de longo prazo, pretende chegar. É também importante definir quais os princípios que regem o seu funcionamento, no sentido de guiar as decisões, comportamentos e atitudes dos vários intervenientes no plano.
- SWOT: A análise dos pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças permite auxilia na definição das estratégias a seguir, para atingir os objetivos.
- Objetivos: O plano deve ser traçado com vista a alcançar diversos objetivos, com diferentes horizontes temporais (é essencial incluir vários objetivos parcelares, que marcam o caminho para atingir o objetivo final). Estes objetivos não deverão ser unicamente financeiros, como objetivos de vendas ou margens, mas devem também ser operacionais, como a definição que um determinado produto deverá ser lançado até uma determinada data.
- Indicadores de desempenho (KPIs): É importante definir claramente quais as métricas que permitem compreender o negócio da empresa e a sua evolução. Por exemplo, relacionar o valor das vendas com o número de clientes permite determinar se uma quebra dessas vendas está associado a um menor número de clientes, a uma compra média inferior por clientes ou a ambas. Conforme a causa, a decisão a tomar para combater essa quebra de vendas poderá ser distinta, podendo ser privilegiadas iniciativas para que mais clientes se desloquem ao estabelecimento ou iniciativas que estimulem a compra de mais produtos, quando os clientes se encontram no estabelecimento.
- Mercado, concorrência e clientes: É importante que o plano analise o mercado onde a empresa irá atuar, de forma a identificar oportunidades de crescimento, bem como, a forma como os seus concorrentes estão a agir nesse mercado. Esta análise é essencial para identificar os desejos e necessidades dos potenciais clientes, bem como, as vantagens competitivas que a empresa possui e formas de desenvolver vantagens adicionais. É necessário que a empresa apresente uma proposta de valor que: Seja transversal a todos os segmentos de clientes; Permita a fácil perceção, por todos, do posicionamento do negócio; Evidencie os aspetos diferenciadores do negócio.
- Plano operacional/investimentos: É essencial descrever quais as iniciativas que serão tomadas, incluindo as de marketing, ao abrigo do plano e de que forma essas iniciativas contribuem para a empresa atingir os seus objetivos. Esta secção permite identificar quais os recursos necessários para operacionalizar o projeto (humanos, financeiros e materiais).
- Projeções Financeiras: A transformação dos vários elementos do plano em dados financeiros irá permitir aferir da viabilidade do plano. Estas previsões devem conter diversos cenários (otimistas e pessimistas) de forma a avaliar o impacto de uma evolução, diferente da esperada, nas principais variáveis do negócio. Assim, deve ser claro para o empresário, quais os recursos necessários a alocar ao projeto e o retorno esperado do seu investimento.
É certo que o caminho real nunca será igual ao plano, porque são muitos os imponderáveis que surgem numa empresa. São esses imponderáveis que implicam a tomada de decisão permanente dos empresários, com consequências sobre o futuro das suas empresas.
Ao elaborar o seu Business Plan, o empresário é “obrigado” a analisar e avaliar as várias variáveis do seu negócio, permitindo que este compreenda melhor o mercado em que a tua, preparando-o para responder a eventuais desvios.
Com o plano devidamente definido, é possível:
- Identificar, no curto-prazo, a existência de desvios, bem como os motivos desses desvios;
- Avaliar o impacto desses desvios na operação da empresa (se relevantes ou não);
- Definir, se necessário, iniciativas para corrigir esses desvios;
- Analisar os possíveis impactos de cada iniciativa, para decidir quais deverão ser implementadas;
- Avaliar o impacto das decisões tomadas.
Seguindo este processo, de construção do Business Plan e de análise permanente da situação da empresa e das decisões a tomar, o empresário minimiza a probabilidade de erros e desperdício de recursos. Este processo pode assumir ainda mais relevância numa PME onde, por tradição, os recursos são escassos e a margem de erro menor.
Essas decisões podem ter um âmbito muito alargado:
- Investimento/Financiamento: As decisões de investimento de uma empresa, só raramente podem ser financiadas com o cash flow gerado pela empresa, o que implica a procura de financiamento externo. Tendo por base o Business Plan a empresa poderá simular o impacto das várias modalidades de financiamento, para escolher a mais adequada. O Business Plan, também será relevante para quem financia a empresa, já que, demonstra que a empresa será capaz de cumprir com os pagamentos futuros de juros e capital ou, no caso de investidores, dará uma rentabilidade adequada ao financiamento colocado na empresa.
- Tesouraria: O Business Plan auxilia na previsão de tesouraria a curto/médio prazo, dando informação sobre os potenciais pontos críticos. Assim, torna-se mais fácil agir preventivamente controlando os custos e os recursos financeiros disponíveis, para a empresa não entrar numa situação de incumprimento.
- Recursos Humanos: Identificando antecipadamente os recursos humanos que serão necessários, bem como a data prevista para a sua entrada, será possível identificar os melhores recursos para ocupar as funções disponíveis, bem como qual o custo em que a empresa poderá incorrer (considerando aqui eventuais apoios à contratação).
- Venda: O Business Plan poderá inclusivamente ser um apoio na hora de saída da empresa, permitindo comparar as ofertas recebidas vs a rentabilidade esperada do projeto. Sendo colocada a hipótese de venda, podem inclusivamente ser tomadas medidas para aumentar o valor da mesma.
Existe aqui uma importante ressalva, é preciso garantir que a análise e tomada de decisão seja realizada por uma equipa com as qualificações requeridas para a gestão de uma empresa. Por isso, o empresário deverá avaliar que qualificações e competências existem na empresa e quais as áreas onde existem debilidades. Sendo que, no plano, deverão estar previstas medidas para suprimir essas debilidades, como a contratação de recursos humanos qualificados, consultadoria ou inclusivamente ser tomada a opção de entrada na empresa de smart capital, que para lá dos recursos financeiros, pode transmitir conhecimento em diversas áreas